HISTÓRIA
As raízes
A Paródia começou como uma sapataria e passa a loja de antiguidades propriedade do famoso decorador Luís Pinto Coelho, na década de 1970. Aos poucos, Pinto Coelho vai reconvertendo o espaço para bar passa a receber amigos, com quem conjura a conspiração que daria origem ao 25 de Abril.
A Paródia abre as portas apena dois dias depois do 25 de Abril de 1974, tomando o nome emprestado ao artista Rafael Bordalo Pinheiro.
O caricaturista e ceramista é omnipresente no bar, das gravuras à ementa, passando pela decoração. Foi a terceira criação de Luís Pinto Coelho, que tinha já aberto dois bares: o Procópio (1972) e A Outra Face da Lua. Este último era uma loja de venda de roupas em segunda mão e espaço de bar ao mesmo tempo, um conceito altamente inovador para a época.
Uma vez nascida a democracia em Portugal, só fazia sentido oficializar os encontros e fazer da loja um bar de espírito aberto, mas sempre com a porta fechada, por questões de charme e protocolo.
Fundação de mãos dadas com a Democracia
Pinto Coelho sairia do bar e venderia a sua quota a um dos colaboradores: Albino Viralhada, um afamado barman, galardoado com o prémio de Melhor Barman do Mundo, num dos primeiros concursos da modalidade, que teve lugar no Japão. Pinto Coelho passa para o Foxtrot e decide vender A Paródia a Albino, orgulhoso filho de Peniche, corria o ano de 1976.
Albino Viralhada trabalhava como barman, enquanto a esposa tornava a cozinha famosa, com a ajuda dos afamados pregos do lombo, um ex-libris da capital. Mais tarde, entraria outro familiar – Aldino – e ficaria constituída a equipa base da Paródia nos finais dos anos 70. Albino, conhecido por usar sempre fato e laço a preceito, teve um enorme sucesso com o bar naquela época.
Após uma sucessão de catástrofes pessoais, A Paródia entra numa espiral descendente. É aqui que José Baptista, pai de Pedro – um dos atuais donos –, com a irmã e alguns amigos, se apaixona pelo bar. Emocionalmente destruído e sem capacidade para acompanhar as novas tendências, Albino não consegue atualizar o bar e vai perdendo os seus clientes habituais, que vão também entrando no outono da vida.
Da decadência à ressurreição
José Baptista decide avançar para a compra do estabelecimento, evitando a morte precoce do bar. O filho Pedro, então com 18 anos, estava a terminar o curso de gestão e era uma excelente oportunidade para começar a pôr em prática os seus conhecimentos. Corria o ano de 1998 e Pedro, em vez de um carro, como muitos dos seus amigos, recebe um bar como presente do pai.
Pedro já tinha trabalhado em bares, tinha experiência, apesar da tenra idade, mas achou a oferta uma loucura. Era o peso da responsabilidade a falar. Pedro estava por dentro das novas tendências e tinha uma carta na manga: uma lista de cocktails, algo inovador para a época.
Albino continua a trabalhar no bar após a venda do estabelecimento a José Baptista. Passados dois anos, Albino deixa A Paródia. É então que José Baptista subaluga o bar a João Carlos e A Paródia conhece a pior fase da sua vida.
Após diversas tropelias, a saída de João Carlos é negociada e Pedro Baptista assume, por fim, a gestão do bar.
Sangue novo, novas ideias e conceitos
Pedro vai buscar um amigo, João Batanete, com quem já tinha trabalhado, e, no mesmo dia em que estavam a limpar o bar, mal acendem as luzes, começaram a aparecer clientes. Foi o caos, já que ainda nem sabiam onde estavam os copos e as bebidas. O bar encheu nesse primeiro dia, que seria inesquecível.
Pedro e João passam as semanas seguintes a reconstruir o bar e a colocar a casa em ordem. Decidem fazer várias alterações para tornar o bar apresentável. Pedro já sabia bem o que queria e, sobretudo, o que não queria. Entre as primeiras decisões, esteve a de remover a icónica alcatifa. Estava feita a manutenção e a recuperação total do bar. O bar era frequentado por uma população na faixa etária dos 60 anos para cima, sobretudo
advogados, juízes, inspetores das Finanças e pessoas ricas que não precisavam de trabalhar. Na altura, os barmen ainda eram os confidentes a quem os clientes contavam tudo. Pedro gostava de ouvir as histórias e tinha paciência para todos. Entre 60 e 70 por cento eram alcoólicos e estavam na fase descendente da vida.
Era como uma segunda alcatifa que também tinha de ser removida. Pedro queria também transformar a clientela do bar e ir buscar clientes novos.
Um refresh à clientela
Era o fim da chamada fase dos “velhos do Restelo”. A estudar no IADE, Filipa, a futura esposa, gostava de sair à noite e começou a namoriscar Pedro desde a primeira vez que entrou na Paródia. Começam a namorar e Filipa torna-se assídua do bar e começa também a trabalhar no
estabelecimento.
Após uma combinação de esforço com acaso, entram novos tipos de clientes. Com uma preciosa ajuda das redes sociais, algumas boas fotografias, muita comunicação institucional e ações de charme, eis que A Paródia ganha uma vida nova.
O estabelecimento de relações positivas com grupos do bairro e de outros bares “amigos”, sobretudo os de Pinto Coelho, foram uma ajuda preciosa. Um cliente estrangeiro que trabalhava na área do turismo seria, também ele, uma peça chave para o renascimento da Paródia.
Estamos em 2008/2009. Com uma ajuda do novo cliente e do Trip Advisor, começam a chegar clientes de outros países. Os frutos do esforço florescem finalmente. Filipa e Pedro começam a fazer tertúlias e a apostar em novos formatos. Com o passa-palavra, chegam à Paródia clientes
interessados em cultura, que reconheciam no bar uma faceta mais tradicional. A Paródia rejuvenesce, com uma clientela entre os 25 e os 40 anos.
Aparecem estudantes, diretores, trabalhadores independentes, profissionais liberais, o oposto da clientela antes existente. Os novos clientes identificam-se com o ambiente do bar.
Renascimento com amor
Filipa assume a face do bar e Pedro Batista fica no balcão e nos cocktails. A dinâmica do casal transforma A Paródia por completo. O objetivo agora era conseguir novos colaboradores que conseguissem, também eles, cativar os clientes e fazer da ida ao bar uma experiência
agradável. A Paródia começava finalmente a dar lucro.
Bordalo Pinheiro é uma presença permanente no bar. Muitas das peças existentes na Paródia são autênticas antiguidades e marca da história do estabelecimento. Mas, a maioria dos clientes não conhece a riqueza do seu historial.
Até porque muitos acham que Bordalo Pinheiro se resume ao Zé Povinho. Mas, Filipa e Pedro tentam, com carinho, explicar e contar a ligação do artista à Paródia.
Paródia é Loja com História
A Paródia é uma Loja com História. Após algumas tentativas, a Câmara Municipal de Lisboa considerou o bar no âmbito do projeto Lojas com História, ao lado de outros bares icónicos da capital.
O processo teve início em 2017 e A Paródia foi finalmente classificada em setembro de 2020, após alguns atrasos provocados pela pandemia de Covid-19. A avaliação é pública e está no website das Lojas com História.
A reabertura do bar coincide com a digitalização do negócio, aliando a sua rica história a um funcionamento modernizado e atual. É a primeira reabertura depois da pandemia e as expectativas são elevadas.
Os ex-libris do bar são a tosta de atum e a Spicy Marguerita, polvilhada com malaguetas. Ou ainda a Viúva Negra. Na dúvida, prove todos, são deliciosos!